quinta-feira, 31 de março de 2011

Digo: O amor proprio, as vezes, mata.

"O Alquimista pegou um livro que alguém na caravana havia trazido. Enquanto folheava suas páginas, encontrou uma história sobre Narciso. O alquimista conhecia a lenda de narciso, um rapaz que todos os dias se debruçava na margem de um lago para contemplar sua própria beleza. Era tão fascinado por si mesmo que certa manhã, caiu no lago e morreu afogado. No lugar onde caiu, um flor surgiu, que a chamaram de Narciso.

Mas não era assim que o autor do livro terminava a lenda. Ele dizia que, quando Narciso morreu, vieram as deusas do bosque e viram o lago, que antes era de água doce, transformado num lago de lágrimas salgadas

- Por que você chora? - perguntaram as deusas.
-Choro por Narciso - respondeu o lago.
-Ah, não nos espanta que você chore por Narciso - disseram elas. -Afinal de contas, apesar de sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você era o único que contemplava de perto sua beleza.
- Mas Narciso era belo? - perguntou o lago.
- Quem melhor do que você poderia saber disso? - disseram, surpresas, as deusas -Afinal de contas, era nas suas margens que ele debruçava-se todos os dias para contemplar-se!

O lago ficou quieto por algum tempo. Por fim, disse:
- Choro por Narciso, mas jamais notei que Narciso era belo. Choro porque, todas as vezes que ele se debruçava sobre minhas margens, eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza refletida.

"Que bela história", pensou o Alquimista."